12 de set. de 2008

CONTINUANDO COM AS HISTÓRIAS


DIAGNÓSTICO PRECIPITADO


Meu sobrinho apresentava problemas na escola. Segundo a professora, ele não gostava de estudar e ficava cantando na hora da aula, atrapalhando a turma. Na tentativa de compreender a situação, chamei o garoto para conversar
- Por que você não quer fazer os deveres que a professora passa?
- Ah, é porque eu já sei tudo o que ela dá...
- Que atividades você já sabe?

Pegando algumas folhas na mochila ele passou a desenhar vários (es) e (emes), ou seja os velhos e tradicionais exercícios de coordenação motora.

Perguntei-lhe se já conhecia as letras. Ele respondeu que sim,que já conhecia o alfabeto todinho. Então perguntei se já sabia juntar as letras. E ele não só me respondeu afirmativamente como também, começou a escrever várias palavras alfabeticamente.

A essa altura, minha cunhada já estava mais calma e relatou-me que ele havia aprendido a ler e escrever sozinho, depois de ter contato com livros, jornais, letreiros de lojas ,etc. No entanto, ela jamais imaginou que fosse ter problemas na escola.

Ora, sabemos que as crianças não são folhas em branco onde podemos riscar à vontade, ou blocos de argila que moldamos a nosso gosto. Por trás daquele lápis há um ser pensante, um sujeito ativo, coadjuvante no processo ensinar/aprender. Quem alfabetiza precisa conhecer o caminho que a criança percorre para aprender a ler e escrever; precisa ler grandes autores e autoridades em educação. Enfim, tem que acompanhar as mudanças sociais, políticas e filosóficas. Ignorar o que a criança já sabe quando chega à Escola é ignorar tudo isso.

Antes de ir embora, meu sobrinho fez uma confidência:
- Ah, tia, teve um dever que eu achei legal!
- Puxa, qual foi?
- Esse aqui, ó! ( Mostrou-me uma folha com os números 1-1-1-1-1 no alto da página. A atividade proposta era a repetição do número 1, ou seja, a unidade, devendo o aluno copiá-lo dezenas de vezes até encher a folha).
- Ora, mas por que você achou esse dever legal? (Eu estava curiosíssima!).
- É porque esse aqui é mais difícil. É pra gente fazer o número “onze mil cento e onze”!

2 comentários:

Cristiane disse...

É incrível como a gente subestima a inteligência das crianças!!!
Abraços,

Celia Rodrigues disse...

Nossa! Que historia legal. Isso mostra que nós educadores devemos sempre procurar novidades para os nossos alunos. As crianças são inteligentes e já não aceitam apenas viver apenas copiando. Bjim